4 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE LEITURA
A princípio compreende-se,
que o processo inicial da aquisição da leitura é correspondente ao
discernimento dos sinais ortográficos, nomes, relações letra-som. Esses
procedimentos acompanham o desenvolvimento cognitivo, porém, esta idéia diverge
dos meios qualitativos que levam a pessoa a aprender a ler.
Quando se fala das dificuldades da leitura e escrita,
e especificamente do processo de alfabetização, é muito importante que sejam
questionadas as condições da criança que o inicia, verificando se ela já
adquiriu suficiente desenvolvimento físico, intelectual e emocional, bem como
todas as habilidades e funções necessárias para
aprender […]. (COELHO, 1999, p. 77).
Portanto, é
necessário estar atento para essa situação, levando em consideração que a
criança necessita ter prontidão para a aprendizagem. E isso, requer que todos
seus órgãos estejam funcionando ou evoluindo dentro das expectativas da
maturação.
O processo de
aquisição da leitura é único a qualquer indivíduo, então, entende-se, que o
grau de dificuldade da aprendizagem na interpretação da leitura depende apenas
no próprio leitor. Uma diferença que talvez seja possível identificar, diz
respeito à qualidade do ensino com que tal pessoa foi alfabetizada. Conforme
afirma Ferreiro (1987, p. 21): “[…] aprender a ler implica o desenvolvimento de
estratégias para obter o sentido do texto. Implica o desenvolvimento de
esquemas acerca da informação que é representada nos textos […]”.
Verifica-se, que
é necessário antes de qualquer proposta ser acordada no âmbito da aquisição da
leitura, enriquecer o espaço escolar com materiais que supram as funções da
escola no processo de alfabetização.
O visual é
primordial para que a criança se familiarize com a escrita e com a leitura.
Portanto, é pertinente que a leitura se inicie na família. Quando o pai ou a
mãe não tem hábitos de leituras diversas isso fará com que a criança desde cedo
demonstre desinteresse aos estudos. Entretanto, se os pais costumam ler para
elas e mostram a necessidade do hábito de leitura, essa atitude da família vai
facilitar o avanço no processo de alfabetização.
Conforme Grossi (1990,
p. 33):
Antes que a criança compreenda a possibilidade de que
as letras possam ter algum vínculo com a expressão de alguma realidade, isto é,
que as letras possam dizer algo, ela faz experiências de ler a realidade em
desenhos, gravuras. Ela associa às imagens a capacidade de expressar aspectos
do real e nem suspeita que com um conjunto de risquinhos se possa fazer o
mesmo.
Como é possível
observar, antes mesmo que a criança tenha formado os aspectos cognitivos, com
rabiscos ao qual é conhecido como garatujas. São expressões involuntárias que
buscam imitar a escrita do adulto.
Para Coelho, o
processo da leitura envolve alguns (sensoriais, emocionais, filosóficos,
neurológicos, culturais, econômicos e políticos), que são fundamentais para que
a criança tenha um bom resultado na aprendizagem da leitura. Acompanhado desses
aspectos a criança passa por processos de evolução da linguagem referente ao
desenvolvimento cognitivo.
É importante
ressaltar sobre a idéia de método e processo de aprendizagem para poder
compreender se realmente é possível sistematizar as metodologias de ensino para
aprender a ler, “[…] nenhuma aprendizagem conhece um ponto absoluto […]” (FERREIRO,
1985).
Ferreiro (1985,
p. 26), inspirada na teoria de J. Piaget busca a
partir da dicotomia que se observa acerca da aprendizagem do sujeito tornar
compreensível que o conhecimento adquirido pelo homem “enquanto sujeito
cognoscente” equilave a ação do indivíduo que ao mesmo “tempo procura
ativamente compreender o mundo que o rodeia, e de resolver as interrogações que
este mundo provoca”. A questão está relacionada com o potencial que o próprio
homem tem em desenvolver a aprendizagem. Sendo estes independentes dos fatores
neurológicos, emocionais, psicomotores, sensoriais, etc., pois, acabam “sendo
insatisfatórios”.
Observa-se que Faria
(1997) diz ser necessário entender que uma boa metodologia, precisa trabalhar
com eficácia para despertar o estímulo do indivíduo, a fim de se gerar uma
resposta com base no objeto de ensino, transformados pelo sistema de assimilação. Conforme, chamou Piaget, é
o processo de aplicação do esquema ao
real.
Somente o
sujeito é o protagonista de sua aprendizagem, pois, nenhum método irá criar seu
conhecimento. Porém, quando se consegue um bom
resultado na ampliação cognitiva do homem, elogia-se o método e não a
capacidade que o ser teve de interagir com aplicabilidade do esquema.
A escola é, pois,
apenas um entre os diversos fatores, bons e maus, que podem influir no
desenvolvimento de alfabetização da criança. A aprendizagem da leitura pode ser
considerada como um resultado natural quando a criança está exposta a um meio
global no qual a comunicação através da linguagem escrita é fundamental.
(FERREIRO; PALACIO, 1987, p. 183).
Dentro do
processo de iniciação da leitura, nota-se o quanto é importante o papel da
escola no que se refere a uma aprendizagem significativa. O indivíduo precisa
do conhecimento de suas habilidades para poder fazer uso dos métodos ou
processos de aprendizagem coerentes às suas necessidades.
“A leitura do
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se
dependem dinamicamente […]” (FREIRE, 2002, p. 11). Conforme cita o autor a
aquisição da leitura parte dos princípios de visão de mundo pelo qual a pessoa
torna perceptivo todos os aspectos que culmina sua vida desde o período da
infância.
A relação com a
natureza, com os objetos, acontecimentos sociais e relações intrafamiliar vão
dando início a uma concepção crítica da leitura feita no contexto em que vive.
A partir desse contexto, a aprendizagem começa a ganhar significado, ou seja, é
possível através da leitura feita da própria realidade encontrar uma profunda
significação no conhecimento adquirido.
Mediante as
teorias de alguns autores já mencionados, é compreensível que a união desses
saberes se codifique por uma aprendizagem intrinsecamente dotada de meios
racionais que influenciem na aquisição da leitura. Uma vez que a pessoa nasce,
ela passa por etapas e níveis de crescimento e amadurecimento.
Respeitando, o
processo de evolução do ser humano convém salientar, que a aquisição tanto da
leitura quanto da escrita acerca da proposta didática do GEEMPA (Grupo de
Estudos sobre Educação – Metodologia de Pesquisa e Ação) é que: “[…] entende-se
por propostas didáticas um conjunto de atividades cuja validade se mede por sua
eficácia em produzir conhecimentos por parte da população a que se destina […]”
(GROSSI, 1990, p. 31). Levando em consideração todos os aspectos primordiais
que precedem a aprendizagem e tendo em vista as bases epistemológicas,
cognitiva e afetiva.
A proposta do
GEEMPA é gerar um trabalho de qualidade na alfabetização que referencie o
aspecto social em que o público alvo se encontra. E ao mesmo tempo mostrando fazendo
uma relação entre as crianças de classe baixa e média. A proposta em si é
estudada em três níveis acompanhando a evolução da criança: nível Pré-Silábico, nível Silábico e nível Alfabético.
a)
Nível Pré-Silábico
Deste muito cedo
as crianças usam lápis e papel para desenhar ou imitar a escrita dos adultos. É
o período marcado pelo uso das garatujas (desenhos sem figuras), onde o
ambiente irá contribuir bastante o inicio dos primeiros rabiscos dos símbolos
já presente nas crianças.
Neste nível o
ambiente tem que ser favorável. É necessário enriquecê-lo de “[…] materiais e
de atos de leitura e de escrita […]” (GROSSI, 1990, p. 32). É preciso que o
educador (a) deixe as crianças experimentarem a leitura, isso só irá facilitar
o processo de alfabetização.
É também neste
período que a criança inicia a imitar algumas letras, misturando letras e números.
Os símbolos transcritos por elas são bolinhas, riscos e pedaços de letras.
Verifica-se também que a criança começa a perguntar ao adulto sobre as
representações que vê. Além de diferenciar letras de números, percebe que as
letras servem para escrever, porém não sabe como isso ocorre.
Principais
hipóteses do nível pré-silábico:
ü Falta de consciência de correspondência entre
pensamento e palavra escrita;
ü Falta de correspondência entre grafema e fonema, não
há reconhecimento do valor sonoro, isto é, não observa a relação existente
entre o que se fala ou pensa;
ü Só acredita na possibilidade de escrever substantivos,
não compreende que verbos e artigos também se escrevem;
ü Só pode ler ou escrever se houver letras (mais de três
ou quatro) variadas.
b) Nível Intermediário
Neste nível
verifica-se que a criança demonstra certa evolução, porém, não há consistência
porque os acontecimentos oscilam muito, o que caracteriza muita “[…] contradição
na conduta do sujeito […]” (GROSSI, 1990, p. 56).
É o momento em
que a consciência do sujeito, mesmo difusa, consegue em alguns casos assimilar
que a escrita está relacionada com partes da palavra. Também nota-se que devido
à criança ainda estar neste nível, mantém a palavra sem estabilidade, pois o
processo de alfabetização ainda não está bem definido. “Isto diz respeito
somente a palavras não memorizadas globalmente, como o próprio nome da criança
[…]” (GROSSI, 1990, p. 57).
Principais
hipóteses do nível Intermediário:
ü A escrita se desvincula da imagem;
ü Os números podem se distinguir das letras;
ü Conflitos entre a pronúncia e a escrita: complicação
difícil de ser resolvida.
c) Nível Silábico
No nível
pré-silábico a criança precisa está diretamente em contato com a leitura e para
isso seu ambiente tem que propiciar esta intimidade.
No período
Silábico a criança vive um processo de transição onde o conhecimento passa a
dispensar algumas hipóteses, dando espaço para uma “nova” consciência. É o
momento em que ela começa a reconhecer com propriedade os sons referentes a cada
letra. Além de interpretar a leitura, “[…] a passagem de um nível cognitivo
para outro mais elevado não se dá porque foi atingido certo patamar de
conhecimento tido como definitivo ou estável. Ao contrário, a passagem se dá
porque se esbarrou num obstáculo […]” (GROSSI, 1990, p. ?).
São os desafios
da linguagem que proporcionam uma aquisição significativa. Ela precisa
confrontar-se com seu consciente para que aos poucos os processos de hipótese
sejam ampliados. Quando a criança se descobre neste nível, ela passa a contar
todas as sílabas de acordo com a sonoridade, colocando um símbolo para cada
letra.
Segundo Grossi (1990)
a criança expressa muita alegria por ter escrito algumas palavras:
[…] escrever no nível silábico é uma maneira de “curtir” a nova fórmula
encontrada pela criança no mundo da escrita. Escrevendo bastante, a criança vai
ter oportunidade de dar-se conta de que resolve plenamente os problemas de
nosso sistema de escrita, pois não permite a sua decodificação. (GROSSI,1990,
p. 69).
Principais
hipóteses do nível Silábico:
ü A criança já aceita mais de duas letras na palavra,
porém, com algumas restrições;
ü Já assimila hipóteses de quantidade mínima de letra;
ü Usa somente uma letra por palavra na hora de escrever
uma frase;
ü Ainda consegue definir as categorias lingüísticas:
artigo, substantivo, verbos, etc.;
ü Tem maior
percepção com som e letras, havendo recorte silábico.
a)
Nível Alfabético
Neste nível
verifica-se o ponto culminante, onde a criança desperta para o sistema de
escrita. O processo de fonetização está bastante evoluído, porém, em algumas
situações a criança ainda irá apresentar características do nível silábico “A
entrada num nível significa a superação básica do conflito em torno das
concepções características do nível anterior, o que já aconteceu para quem
fonetiza algumas sílabas […]” (GROSSI, 1990, p. 23).
Principais
hipóteses do nível Alfabético:
ü Compreensão lógica da alfabética da escrita;
ü Conhecimento das letras (sílabas e palavras);
ü Consegue diferenciar sílabas, palavras e frases. Em
alguns casos não divide a frase convencional.
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