domingo, 8 de abril de 2012



4 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE LEITURA

A princípio compreende-se, que o processo inicial da aquisição da leitura é correspondente ao discernimento dos sinais ortográficos, nomes, relações letra-som. Esses procedimentos acompanham o desenvolvimento cognitivo, porém, esta idéia diverge dos meios qualitativos que levam a pessoa a aprender a ler.
Quando se fala das dificuldades da leitura e escrita, e especificamente do processo de alfabetização, é muito importante que sejam questionadas as condições da criança que o inicia, verificando se ela já adquiriu suficiente desenvolvimento físico, intelectual e emocional, bem como todas as habilidades e funções necessárias para aprender […]. (COELHO, 1999, p. 77).
Portanto, é necessário estar atento para essa situação, levando em consideração que a criança necessita ter prontidão para a aprendizagem. E isso, requer que todos seus órgãos estejam funcionando ou evoluindo dentro das expectativas da maturação.    
O processo de aquisição da leitura é único a qualquer indivíduo, então, entende-se, que o grau de dificuldade da aprendizagem na interpretação da leitura depende apenas no próprio leitor. Uma diferença que talvez seja possível identificar, diz respeito à qualidade do ensino com que tal pessoa foi alfabetizada. Conforme afirma Ferreiro (1987, p. 21): “[…] aprender a ler implica o desenvolvimento de estratégias para obter o sentido do texto. Implica o desenvolvimento de esquemas acerca da informação que é representada nos textos […]”.   
Verifica-se, que é necessário antes de qualquer proposta ser acordada no âmbito da aquisição da leitura, enriquecer o espaço escolar com materiais que supram as funções da escola no processo de alfabetização.
O visual é primordial para que a criança se familiarize com a escrita e com a leitura. Portanto, é pertinente que a leitura se inicie na família. Quando o pai ou a mãe não tem hábitos de leituras diversas isso fará com que a criança desde cedo demonstre desinteresse aos estudos. Entretanto, se os pais costumam ler para elas e mostram a necessidade do hábito de leitura, essa atitude da família vai facilitar o avanço no processo de alfabetização.


Conforme Grossi (1990, p. 33):
Antes que a criança compreenda a possibilidade de que as letras possam ter algum vínculo com a expressão de alguma realidade, isto é, que as letras possam dizer algo, ela faz experiências de ler a realidade em desenhos, gravuras. Ela associa às imagens a capacidade de expressar aspectos do real e nem suspeita que com um conjunto de risquinhos se possa fazer o mesmo.
Como é possível observar, antes mesmo que a criança tenha formado os aspectos cognitivos, com rabiscos ao qual é conhecido como garatujas. São expressões involuntárias que buscam imitar a escrita do adulto. 
Para Coelho, o processo da leitura envolve alguns (sensoriais, emocionais, filosóficos, neurológicos, culturais, econômicos e políticos), que são fundamentais para que a criança tenha um bom resultado na aprendizagem da leitura. Acompanhado desses aspectos a criança passa por processos de evolução da linguagem referente ao desenvolvimento cognitivo.
É importante ressaltar sobre a idéia de método e processo de aprendizagem para poder compreender se realmente é possível sistematizar as metodologias de ensino para aprender a ler, “[…] nenhuma aprendizagem conhece um ponto absoluto […]” (FERREIRO, 1985).
Ferreiro (1985, p. 26), inspirada na teoria de J. Piaget busca a partir da dicotomia que se observa acerca da aprendizagem do sujeito tornar compreensível que o conhecimento adquirido pelo homem “enquanto sujeito cognoscente” equilave a ação do indivíduo que ao mesmo “tempo procura ativamente compreender o mundo que o rodeia, e de resolver as interrogações que este mundo provoca”. A questão está relacionada com o potencial que o próprio homem tem em desenvolver a aprendizagem. Sendo estes independentes dos fatores neurológicos, emocionais, psicomotores, sensoriais, etc., pois, acabam “sendo insatisfatórios”.
Observa-se que Faria (1997) diz ser necessário entender que uma boa metodologia, precisa trabalhar com eficácia para despertar o estímulo do indivíduo, a fim de se gerar uma resposta com base no objeto de ensino, transformados pelo sistema de assimilação. Conforme, chamou Piaget, é o processo de aplicação do esquema ao real.
Somente o sujeito é o protagonista de sua aprendizagem, pois, nenhum método irá criar seu conhecimento. Porém, quando se consegue um bom resultado na ampliação cognitiva do homem, elogia-se o método e não a capacidade que o ser teve de interagir com aplicabilidade do esquema.
A escola é, pois, apenas um entre os diversos fatores, bons e maus, que podem influir no desenvolvimento de alfabetização da criança. A aprendizagem da leitura pode ser considerada como um resultado natural quando a criança está exposta a um meio global no qual a comunicação através da linguagem escrita é fundamental. (FERREIRO; PALACIO, 1987, p. 183).
Dentro do processo de iniciação da leitura, nota-se o quanto é importante o papel da escola no que se refere a uma aprendizagem significativa. O indivíduo precisa do conhecimento de suas habilidades para poder fazer uso dos métodos ou processos de aprendizagem coerentes às suas necessidades.
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se dependem dinamicamente […]” (FREIRE, 2002, p. 11). Conforme cita o autor a aquisição da leitura parte dos princípios de visão de mundo pelo qual a pessoa torna perceptivo todos os aspectos que culmina sua vida desde o período da infância.
A relação com a natureza, com os objetos, acontecimentos sociais e relações intrafamiliar vão dando início a uma concepção crítica da leitura feita no contexto em que vive. A partir desse contexto, a aprendizagem começa a ganhar significado, ou seja, é possível através da leitura feita da própria realidade encontrar uma profunda significação no conhecimento adquirido.  
Mediante as teorias de alguns autores já mencionados, é compreensível que a união desses saberes se codifique por uma aprendizagem intrinsecamente dotada de meios racionais que influenciem na aquisição da leitura. Uma vez que a pessoa nasce, ela passa por etapas e níveis de crescimento e amadurecimento.
Respeitando, o processo de evolução do ser humano convém salientar, que a aquisição tanto da leitura quanto da escrita acerca da proposta didática do GEEMPA (Grupo de Estudos sobre Educação – Metodologia de Pesquisa e Ação) é que: “[…] entende-se por propostas didáticas um conjunto de atividades cuja validade se mede por sua eficácia em produzir conhecimentos por parte da população a que se destina […]” (GROSSI, 1990, p. 31). Levando em consideração todos os aspectos primordiais que precedem a aprendizagem e tendo em vista as bases epistemológicas, cognitiva e afetiva.
A proposta do GEEMPA é gerar um trabalho de qualidade na alfabetização que referencie o aspecto social em que o público alvo se encontra. E ao mesmo tempo mostrando fazendo uma relação entre as crianças de classe baixa e média. A proposta em si é estudada em três níveis acompanhando a evolução da criança: nível Pré-Silábico, nível Silábico e nível Alfabético.

a)    Nível Pré-Silábico

Deste muito cedo as crianças usam lápis e papel para desenhar ou imitar a escrita dos adultos. É o período marcado pelo uso das garatujas (desenhos sem figuras), onde o ambiente irá contribuir bastante o inicio dos primeiros rabiscos dos símbolos já presente nas crianças.
Neste nível o ambiente tem que ser favorável. É necessário enriquecê-lo de “[…] materiais e de atos de leitura e de escrita […]” (GROSSI, 1990, p. 32). É preciso que o educador (a) deixe as crianças experimentarem a leitura, isso só irá facilitar o processo de alfabetização.
É também neste período que a criança inicia a imitar algumas letras, misturando letras e números. Os símbolos transcritos por elas são bolinhas, riscos e pedaços de letras. Verifica-se também que a criança começa a perguntar ao adulto sobre as representações que vê. Além de diferenciar letras de números, percebe que as letras servem para escrever, porém não sabe como isso ocorre. 

Principais hipóteses do nível pré-silábico:

ü Falta de consciência de correspondência entre pensamento e palavra escrita;
ü Falta de correspondência entre grafema e fonema, não há reconhecimento do valor sonoro, isto é, não observa a relação existente entre o que se fala ou pensa;
ü Só acredita na possibilidade de escrever substantivos, não compreende que verbos e artigos também se escrevem;
ü Só pode ler ou escrever se houver letras (mais de três ou quatro) variadas.

b)  Nível Intermediário

Neste nível verifica-se que a criança demonstra certa evolução, porém, não há consistência porque os acontecimentos oscilam muito, o que caracteriza muita “[…] contradição na conduta do sujeito […]” (GROSSI, 1990, p. 56).
É o momento em que a consciência do sujeito, mesmo difusa, consegue em alguns casos assimilar que a escrita está relacionada com partes da palavra. Também nota-se que devido à criança ainda estar neste nível, mantém a palavra sem estabilidade, pois o processo de alfabetização ainda não está bem definido. “Isto diz respeito somente a palavras não memorizadas globalmente, como o próprio nome da criança […]” (GROSSI, 1990, p. 57).   

Principais hipóteses do nível Intermediário:

ü A escrita se desvincula da imagem;
ü Os números podem se distinguir das letras;
ü Conflitos entre a pronúncia e a escrita: complicação difícil de ser resolvida.

c) Nível Silábico

No nível pré-silábico a criança precisa está diretamente em contato com a leitura e para isso seu ambiente tem que propiciar esta intimidade.
No período Silábico a criança vive um processo de transição onde o conhecimento passa a dispensar algumas hipóteses, dando espaço para uma “nova” consciência. É o momento em que ela começa a reconhecer com propriedade os sons referentes a cada letra. Além de interpretar a leitura, “[…] a passagem de um nível cognitivo para outro mais elevado não se dá porque foi atingido certo patamar de conhecimento tido como definitivo ou estável. Ao contrário, a passagem se dá porque se esbarrou num obstáculo […]” (GROSSI, 1990, p. ?).

São os desafios da linguagem que proporcionam uma aquisição significativa. Ela precisa confrontar-se com seu consciente para que aos poucos os processos de hipótese sejam ampliados. Quando a criança se descobre neste nível, ela passa a contar todas as sílabas de acordo com a sonoridade, colocando um símbolo para cada letra.
Segundo Grossi (1990) a criança expressa muita alegria por ter escrito algumas palavras:
[…] escrever no nível silábico é uma maneira de “curtir” a nova fórmula encontrada pela criança no mundo da escrita. Escrevendo bastante, a criança vai ter oportunidade de dar-se conta de que resolve plenamente os problemas de nosso sistema de escrita, pois não permite a sua decodificação. (GROSSI,1990, p. 69).
Principais hipóteses do nível Silábico:

ü A criança já aceita mais de duas letras na palavra, porém, com algumas restrições;
ü Já assimila hipóteses de quantidade mínima de letra;
ü Usa somente uma letra por palavra na hora de escrever uma frase;
ü Ainda consegue definir as categorias lingüísticas: artigo, substantivo, verbos, etc.;
ü  Tem maior percepção com som e letras, havendo recorte silábico.

a)    Nível Alfabético

Neste nível verifica-se o ponto culminante, onde a criança desperta para o sistema de escrita. O processo de fonetização está bastante evoluído, porém, em algumas situações a criança ainda irá apresentar características do nível silábico “A entrada num nível significa a superação básica do conflito em torno das concepções características do nível anterior, o que já aconteceu para quem fonetiza algumas sílabas […]” (GROSSI, 1990, p. 23).

Principais hipóteses do nível Alfabético:

ü Compreensão lógica da alfabética da escrita;
ü Conhecimento das letras (sílabas e palavras);
ü Consegue diferenciar sílabas, palavras e frases. Em alguns casos não divide a frase convencional.



           

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